E se, de repente, uma notícia de jornal, sobre um banal acidente ou sobre o tempo que faz, se transformassem em pérolas literárias?
E se um camião fosse visto como um transformer? E se o Atlântico aparecesse deprimido?
Metáforas descabidas? Não! Peças de literatura.
Leiam e deliciem-se (vão por mim: não se fiquem pelos excertos... vale a pena ler os textos completos!):
Exemplo 1.
Como ficou, todo estampado de costas, o atrelado tombado de lado na encosta, carga espalhada e os 12 rodados indignamente virados ao ar, o grande Scania R440, um muito possante semi-reboque, vermelho vivo, novo, parecia um Transformer que correu horrivelmente mal. Bastava ver-lhe a cara que é a sua cabina - pareceu ter levado um soco do céu: testa de vidro partida, grelha metida pelas fuças adentro, todo amarrotado como papel, um sem-número de fios e mecânicas vísceras, a escorrer, à mostra de todos. Metia dó, como um escaravelho que capota e não se pode levantar. Mas, mais do que isso, metia medo.
Exemplo 2.
De quem é então a culpa deste tempo tossido? É do Atlântico, está deprimido, explica o serviço do Instituto de Meteorologia - a música de espera na linha é a mesma, Vivaldi jacente.
Agora perguntemos, em coro: o que faz um escriba destes numa redacção do JN, encarregue de assuntos triviais?