Como muitas coisas na minha vida, os estudos literários caíram-me no regaço por mero acaso. Dava aulas de várias coisas e pediram-me que desse aulas de Introdução aos Estudos Literários. Aconteceu na Guarda, aconteceu em Timor e aconteceu em Viseu. A princípio, foi a correria do costume, para preparar aulas, buscar lógicas e criar um discurso, um fio condutor. Não consigo dar aulas sem isso.
Revirei sebentas antigas, recordei aulas do Doutor Osvaldo Silvestre e do Doutor Seabra Pereira. E lá fui.
Não fui (não sou, mea culpa) um leitor sistemático. Leio muito, mas sou um leitor intermitente. Um bocadinho aqui, outro ali...
Acho até que o gosto pela filosofia terá contribuído para isso.
E eis que entra em cena Saramago. A partir da obra Diálogos com José Saramago do Professor Carlos Reis, pude entrar um pouco mais no processo de escrita e na forma de ver a literatura pelo escritor. E percebi muito melhor o que é relevante.
Pena que estas conversas não tivessem sido gravadas em vídeo.
Tenho agora entre mãos a obra Conversas com Escritores, de José Rodrigues dos Santos.
Curiosamente, as grandes questões dos Estudos Literários aparecem logo na apresentação e a questão central que perpassa as entrevistas é precisamente O que é um bom Romance.
Apesar de ser uma conversa curta, não comparável à profundidade dos diálogos com Carlos Reis, é muito interessante ver como a reflexão sobre o que é ser escritor aparece a cada momento na conversa que Rodrigues dos Santos teve com Saramago.
Quando JRS o questiona sobre o que o levou a dedicar-se profissionalmente, e em exclusivo, à escrita, JS responde:
Foram as circunstâncias e depois a descoberta, isso sim, importantíssima, que ocorreu quando me confrontei com a evidência de que tinha leitores. E creio que os leitores tiveram uma parte importante no facto de eu continuar a escrever.
Ainda bem...
Vejam aqui a conversa (duração: cerca de 30 minutos).