Ando há vários dias a ensaiar uma reacção às notícias sobre os Colégios.
Tenho uma ligação a esse mundo por via do meu percurso académico e profissional.
Primeiro, frequentei o Instituto Vaz Serra, em Cernache do Bonjardim, do 9.º ao 11.º ano de escolaridade. Não havia (e creio que continua a não haver) outra escola nessa localidade.
Depois, frequentei o Colégio de S. Miguel, em Fátima, no 12.º ano. Também lá não existe oferta pública directa (há três colégios).
Anos mais tarde, quando acabei o estágio, como professor, e descobri a realidade (não ter colocação no sistema público), foi o Colégio de S. Miguel que me acolheu como professor e lá trabalhei de 1997 a 1999.
Conheço, assim, com algum detalhe a questão.
Devo dizer que muitos argumentos que foram surgindo foram, e são, interessantes e, só por si, serviriam para responder à questão (a falta de oferta na rede pública, os resultados dos alunos, a estabilidade dos envolvidos, a possibilidade de escolha, etc...). Mas não é esse o argumento que quero trazer à discussão.
Quando se começaram a conhecer os contornos da nova lei, o que mais se destaca (e que deveria ser motivo de reflexão por responsáveis políticos, se é que querem mesmo pensar na questão) é o facto de não terem sido fundamentalmente as Direcções dos Colégio a criar movimentos de defesa. Foram os professores, os pais e os ex-alunos que vieram para a rua (e a rua, como espaço público, passa cada vez mais pelas redes sociais) manifestar a preocupação e desagrado.
E o que tem isto de extraordinário? Tudo! A Escola faz-se com as pessoas que a constituem (mesmo as que já lá não estão). E um dos problemas da escola pública é precisamente essa despersonalização (que acarreta, por si só, desresponsabilização), em que ninguém se compromete. O que marca a diferença entre escolas é a capacidade de envolver as pessoas num projecto. E esse deveria ser o argumento fundamental.
Não se trata de discutir os méritos de um sistema público versus um sistema privado. Apenas de destacar o que é relevante e que diferencia.
Onde se veem manifestações de pais, professores e ex-alunos a defender a SUA escola? Em casos pontuais de problemas de escolas do 1.º CEB. E nada mais. E será que não é aí que está toda a diferença? Quem está dentro das escolas sabe que é.
Por fim, e se a questão dos valores é assim tão relevante para o ME, então que mostrem, de forma clara, quanto custa uma turma em cada escola. Pública ou não. Assim, todos poderíamos perceber se há razão nos argumentos.