"Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar. Ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender." Pascal

12
Jun 13

  Este é um texto que me acompanha há já muito tempo. Num momento em que a luta entre professores e ministério está ao rubro, volto a ele, para que não se perca, no meio da poeira dos dias, o essencial. A voz ao Mestre, Agostinho da Silva.

 

imagem daqui

Não me basta o professor honesto e cumpridor dos seus deveres; a sua norma é burocrática e vejo-o como pouco mais fazendo do que exercer a sua profissão; estou pronto a conceder-lhe todas as qualidades, uma relativa inteligência e aquele saber que lhe assegura superioridade ante a classe; acho-o digno dos louvores oficiais e das atenções das pessoas mais sérias; creio mesmo que tal distinção foi expressamente criada para ele e seus pares. De resto, é sempre possível a comparação com tipos inferiores de humanidade; e ante eles o professor exemplar aparece cheio de mérito. Simplesmente, notaremos que o ser mestre não é de modo algum um emprego e que a sua actividade se não pode aferir pelos métodos correntes; ganhar a vida é no professor um acréscimo e não o alvo; e o que importa, no seu juízo final, não é a ideia que fazem dele os homens do tempo; o que verdadeiramente há-de pesar na balança é a pedra que lançou para os alicerces do futuro.

A sua contribuição terá sido mínima se o não moveu a tomar o caminho de mestre um imenso amor da humanidade e a clara inteligência dos destinos a que o espírito o chama; errou o que se fez professor e desconfia dos homens, se defende deles, evita ir ao seu encontro de coração aberto, paga falta com falta e se mantém na moral da luta; esse jamais tornará melhores os seus alunos; poderão ser excelentes as palavras que profere; mas o moço que o escuta vai rindo por dentro porque só o exemplo o abala. Outros há que fazem da marcha do homem sobre a Terra uma estranha concepção; vêem-no girando perpetuamente nos batidos caminhos; e, julgando o mundo por si, não descobrem em volta mais que uma eterna condenação à maldade, à cegueira e à miséria; bem no fundo da alma nenhuma luz que os alumie e solicite; porque não acreditam em progresso nenhuma vontade de melhorar; são os que troçam daquilo a que chamam «a pedagogia moderna»; são os que se riem de certos loucos que pensam o contrário. Ora o mestre não se fez para rir; é de facto um mestre aquele de que os outros se riem, aquele de que troçam todos os prudentes e todos os bem estabelecidos; pertence-lhe ser extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de bens, viver incerta vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã Natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancor, saberá compreender todas as cóleras e todos os desprezos, pagará o mal com o bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo; não verá no aluno um inimigo natural, mas o mais belo dom que lhe poderiam conceder; perante ele e os outros nenhum desejo de domínio; o mestre é o homem que não manda; aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade; não o interessa vencer, nem ficar em boa posição; tornar alguém melhor — eis todo o seu programa; para si mesmo, a dádiva contínua, a humildade e o amor do próximo.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'

publicado por Ricardo Antunes às 22:13

15
Jun 10

Deixo-vos hoje uma entrevista ao Mestre Agostinho da Silva.

 


“Hoje, a maior parte dos desgraçados dos alunos têm de aguentar professores a quem não pediram coisa nenhuma.”

 

"Vivemos numa guerra constante de competição e aos alunos ensinam coisas desnecessárias. O futuro é promissor na justa medida em que as máquinas vão substituir o trabalho manual, havendo assim tempo para o ócio e o lazer. Toda a gente nasce poeta e uma das formas de criação e poesia é a vadiagem. Temos assim uma cultura de criação de arte, poetas à solta no seu lazer. Mas é preciso saber ser vadio. Arte, Criação, porque o homem não nasceu para trabalhar, mas para criar. É o tal poeta à solta. Temos que enfrentar esta guerra com a política dos três SSS. A saber: Sustento, Saber e Saúde"

 

Fica em duas partes e, lamentavelmente, não consegui encontrá-la com melhor qualidade (há desfasamento entre a imagem e o som).

Mas vale a pena. É a primeira da série "Conversas Vadias". Conduz a entrevista Maria Elisa.

 

 

 

 

publicado por Ricardo Antunes às 23:13

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