"Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar. Ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender." Pascal

08
Jun 13

 

Como os que me conhecem sabem, sou dos que gostam de dar o benefício da dúvida. Até já aqui escrevi sobre isso há tempos.
Quando o ministro Nuno Crato começou a sua reforma educativa, fui observando, cada vez mais de fora e afastado (por opção) enquanto profissional, e cada vez mais por dentro como pai.

 

Vários sinais foram e continuam a ser positivos e disso também encontrarão algum eco nestas páginas: gosto da autonomia das escolas, acredito que em qualquer instituição (e as escolas não são diferentes nesse ponto, muito pelo contrário) tem de haver quem mande e quem manda tem de poder escolher com quem trabalha (com a arbitrariedade que isso sempre traz).

 

Há, contudo, outros casos em que os sinais são menos interessantes. Na semana passada, o sr Mário (cozinheiro e empregado de mesa e bar durante mais de 40 anos, com quase 60 anos e muitas histórias para contar) trouxe-me um fac-símile do Livro de Leitura da 3.ª classe. Orgulhoso, mostrava-me as páginas e, apesar de ter apenas completado a 4.ª classe, sem sequer ter tido a "honra" de fazer o exame (naquele dia foi preciso ajudar na quinta onde ele e a família moravam e trabalhavam), queria que eu visse como ele ainda sabia parte dos textos de cor.

 

A páginas tantas, eis que salta para a ponta da língua o "Palram pega e papagaio". Este é um texto de Pedro Dinis, um antigo diretor da Biblioteca Nacional, e foi recolhido por Antero de Quental, numa antologia intitulada Tesouro Poético da Infância. Nada disto seria relevante, não fosse termos o sr ministro Crato a insistir nessa ideia de que  as Metas são o Alfa e o Ómega da sua política educativa. E não é que este poema é precisamente um dos de leitura obrigatória no 1.º Ciclo, nas Metas Curriculares de português?Um regresso à ribalta que pode servir de exemplo do conservadorismo que temos pela frente. Esse conservadorismo que salta à vista quando lemos declarações como esta, em entrevista à Revista Veja:

Memorizar a tabuada, cidades e rios
Contra o 'eduquês' e as teorias de Jean Piaget, Nuno Crato defende a memorização. “É importante decorar a tabuada, o nome e a localização de certos rios e cidades e as datas mais importante da História.”

Questionado sobre o modo como as crianças aprendem, o ministro afasta a ideia do gosto pela aprendizagem. Esse é um “pensamento muito limitado” e exemplifica: “Veja o caso da leitura. Muitos educadores acham que para ler bem a criança precisa, antes de qualquer coisa, estar desperta para o gosto pela literatura”, mas não [não??] , Crato considera que “tem de se ler muito, mesmo sem gostar”.

Estamos entendidos.

publicado por Ricardo Antunes às 00:42

Ó sr. Professor, Ómega? não é Omega? Ó grande?
José Silva a 8 de Junho de 2013 às 22:51

Caro José Silva, apesar de, no grego clássico, como no Latim, podermos ter várias interpretações sobre a pronúncia desta ou daquela letra, ou desta ou daquela palavra, a verdade é que, tendo em conta a natureza desta letra e, principalmente, porque é disso que se trata, desta palavra, creio que a opção Ómega é mais acertada do que Omega. A razão prende-se com o facto de o Ω, no grego clássico, ser uma vogal longa por natureza, pelo que na transição para o português deve manter essa força, tornando-se tónica. A comprová-lo estão o Manual de Iniciação ao Grego, do saudoso Prof. Doutor Louro da Fonseca, da Univ . de Coimbra, ou o Dicionário Grego-Português e Português-Grego , de Isidro Pereira S.J . que apresentam a palavra com acento: "ómega". Também o Dictionnaire Grec-Francais , de A. Bailly , apresenta, para o francês, a vogal acentuada.
Já quanto à minha opção pela maiúscula, tem a ver com o contexto e a referência, já não linguísticos, mas culturais, em que a tradição cristã usa a expressão Alfa e Ómega como sinónimos do Princípio e do Fim, dando-lhe valor próprio.

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