"Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar. Ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender." Pascal

17
Mar 12

Sendo uma área de fronteira, menosprezada durante tanto tempo, o Ensino Profissional aparece hoje como uma solução/salvação para o aparente sucesso escolar (na verdade, e na maioria dos casos, nem esse se consegue).

 

Deixo aqui uma reflexão sobre o assunto. Não concordo com tudo. Esecialmente com o modelo apresentado para solucionar essa questão. Pode (e deve) haver escolas cujo objetivo seja o ensino profissional. Tem é de se recuperar esse ensino, e as profissões para que ele deve preparar, do estigma atual. Há modelos por essa europa fora, se não quisermos inventar a roda. Mas pensar num modelo mais mediterrânico também não era mau (a economia mediterrânica, para os mais distraídos, não se está a aguentar muito bem com o modelo do norte da europa... e se pensarmos bem, isso deve-se, em parte, à forma errada como temos gasto os nossos recursos - para mim, esse problema começa na escola).

 

Fica a reflexão de Ramiro Marques.

 

O ensino profissional, tal como está organizado, com os planos de estudo atuais e com o ethos que o caracteriza, seja em escolas estatais seja em escolas privadas, revela no mínimo uma assustadora falta de qualidade. Em muitos casos, é um puro desperdício de dinheiro. Os alunos fazem o que querem nas aulas: passam o tempo no Facebook e no You Tube, insultam os professores, deambulam livremente pela sala, entram e saem quando querem, recusam-se a trazer os livros e materiais para as aulas e são incapazes de cumprir ordens.
Haverá alguns cursos profissionais que funcionam bem. Esses devem ser acarinhados. Pelo que sei não são muitos. Não defendo a eliminação pura e simples de todos os cursos profissionais que funcionam nas escolas públicas. Os bons devem manter-se. Os que não têm qualidade devem ser eliminados e os recursos financeiros aplicados neles transferidos para centros de aprendizagem a funcionarem nas empresas.

Em ambientes sem ordem nem tranquilidade, os alunos não adquirem as virtudes consideradas imprescindíveis para a entrada no mercado de trabalho: pontualidade, assiduidade, respeito pela autoridade e resiliência. Ao invés, aprendem a ser erráticos, caprichosos, desobedientes, malcriados, arrogantes e indolentes.

Já nem falo na inutilidade de alguns planos de estudo. A área de Integração vale zero em termos de aprendizagem conseguida. A área de Mundo Atual, nos cursos Cef, vale igualmente zero.

As escolas, sejam públicas ou privadas, não são o local certo para fazer ensino profissional de jovens que acumulam insucesso atrás de insucesso e que não têm hábitos de trabalho nem respeitam os padrões mínimos de civilidade. Os alunos viciam-se numa cultura de direitos, centrada na gratificação imediata, e não dão valor nem à escola nem aos professores. Não são capazes de traçar a fronteira entre o lúdico e o trabalho, entre a brincadeira e o esforço. Tudo lhes é dado - pequeno-almoço, almoço, livros e transportes - sem lhes ser exigido nada em troca.

Os diretores habituaram-se à ideia de que a criação de cursos profissionais, Cef e Efa, ainda que não haja na escola equipamentos e recursos humanos adequados, é uma exigência que resulta das políticas educativas inclusivas. O objetivo é tirar os jovens da rua. Quanto mais cursos profissionais, Cef e Efa a escola tiver melhor é a pontuação obtida na avaliação externa.

Tal como hoje é feito, o ensino profissional é muito dispendioso e não tem qualidade. Vive de costas voltadas para as necessidades do mercado de trabalho. Oferece um ethos aos formandos que está nos antípodas daquilo que as empresas querem e pretendem.

As empresas querem profissionais que gostem de aprender, que saibam cumprir regras, respeitem a hierarquia, sejam pontuais, sejam assíduos e resilientes. As escolas onde os cursos profissionais são ministrados ensinam, em muitos casos, o contrário de tudo isto.

É preciso retirar progressivamente o ensino profissional das escolas e levá-lo para as empresas em contexto de "escola de aprendizes" ou "centro de aprendizagem". O papel central na gestão do currículo caberá ao "mestre do ofício", um técnico da empresa dotado de autoridade e sabedoria. Os formandos são obrigados a cumprir as normas e os horários vigentes na empresa e, enquanto adquirem as competências inerentes a um determinado ofício, recebem aulas de Língua Portuguesa, Matemática e Inglês ministradas por professores pertencentes a uma escola secundária com quem a empresa estabeleceu uma parceria.

Obviamente, as empresas só estarão dispostas a alinhar na reconstrução de um ensino profissional deste tipo se ganharem alguma coisa com isso. O dinheiro que hoje é entregue às escolas deve ir para as empresas dispostas a criar "escolas de aprendizes" e "centros de aprendizagem". O valor do envelope financeiro deve ser proporcional à taxa de empregabilidade conseguida.

publicado por Ricardo Antunes às 11:26

16
Mar 12

Aqui fica mais uma ligação para um blog interessantíssimo. Assim eu tivesse tempo...

 

Cognitive Philosophy

 

Imagine a world where human beings weren’t susceptible to diseases, where we were all strong and smart, where we couldn’t feel pain and could be put in a state of ecstasy due to things which today produce only mild excitement. Imagine a world where human beings could fly of their own volition, where we have…

 

continue a ler aqui.

publicado por Ricardo Antunes às 20:51
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12
Mar 12

Uma Revista interessante. Online. Grátis.

Nesta edição, alguns artigos interessantes.

Rutger Claassen - Public Services on the Market: Issues and Arguments
David Levine - Freedom of Choice and Freedom from Need

 

Public Reason is a peer-reviewed journal of political and moral philosophy. Public Reason publishes articles, book reviews, as well as discussion notes from all the fields of political philosophy and ethics, including political theory, applied ethics, and legal philosophy. The Journal encourages the debate around rationality in politics and ethics in the larger context of the discussion concerning rationality as a philosophical problem.

 

Public Reason is committed to a pluralistic approach, promoting interdisciplinary and original perspectives as long as the ideal of critical arguing and clarity is respected. The journal is intended for the international philosophical community, as well as for a broader public interested in political and moral philosophy. It aims to promote philosophical exchanges with a special emphasis on issues in, and discussions on the Eastern European space.

 

Starting from 2010 Public Reason publishes two issues per year, in June and December. Public Reason is an open access e-journal, but it is also available in print. All issues/articles are available for download as .pdf, .mobi, and .epub.

publicado por Ricardo Antunes às 11:43

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