"Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar. Ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender." Pascal

25
Out 10

Como transformar um pacato cidadão num serial killer?

 

Hoje fiquei em casa. O rebento mais novo está com febre e no fim de semana uma familiar, médica, diagnosticou-lhe uma otite dupla. Como há historial de complicações graves com otites no irmão anterior, achei por bem dar repouso à criança. Além disso é necessário ir ao médico, o que é sempre uma complicação...

 

Passo a manhã a ligar para as opções disponíveis:

Opção 1. Centro de Saúde - Preciso de uma consulta.. "Tem marcação?" Não.... "então, só para as agudas!" E pode marcar-se? "Tem de vir e esperar.." Já começo a imaginar a manhã inteira numa sala de espera cheia, com a criança aos berros...

 

Passamos à Opção 2. Pediatra - no telemóvel não atende.. No consultório, "só à tarde..." Mas há hipótese de ser visto hoje? "Sim, venha logo depois do almoço". Óptimo!

 

Faço quase 20 km, chego e tenho sala vazia. Espero 4 minutos e sou chamado. Observação de rotina (aproveita-se e faz-se a consulta dos nove meses). Confirmação do diagnóstico. Rapidez e eficiência!

 

Resolvido o caso, lá deixo os XX,XX euros e sigo. Ah! Pedi um atestado, para poder justificar a falta. A criança deve permanecer em casa por 3 dias. Alguém tem de ficar com ela e, desta vez, calha-me a mim.

 

Com o atestado na mão, e para tirar as teimas, ligo para o serviço: preciso de saber se este atestado serve para justificar a minha ausência... "Não! quer dizer.. que tipo de contrato tem?" Ainda penso, por momentos, que estou a ser promovido, mas logo regresso à terra.. "É a termo, não é? e desconta para a Segurança Social.. então esse atestado não serve!" E agora? "Tem de pedir um ao médico de família!"

 

Médica de Família... pois bem. Há mais de 5 anos que não vejo a senhora... Talvez seja altura de uma visita.

 

Com a criança, lá me dirijo ao Centro de Saúde. 40 minutos depois e 20 km feitos, chego. Boa tarde! Preciso de um atestado para justificar as minhas faltas. Tenho aqui este do Pediatra, mas parece que não dá... "Ai não? E por que é que não veio cá?" Porque não conseguia consulta e tinha de ficar à espera... "E quem é a sua médica?" A Dra XXXXXXX... "Ah.. mas ela já não dá cá consultas..." Realmente 5 anos é muito tempo... E fui mudado para outro médico? "Não! A sua médica continua a ser ela!" Mas se ela já não vem cá... "Pois não! Mas vai à extensão de Alcafache!  Tem de lá ir! Aqui não podemos fazer isso!" Mas tem a certeza que tem de ser assim? Eu devia era estar em casa com a criança, e não andar a fazer uma peregrinação a tarde toda... "E não tem ninguém que fique com a criança em casa?" pergunta-me a senhora... Não! Sabe, se tivesse, não precisava de ficar eu em casa com ela, está a perceber? A senhora insiste "Mas tem de lá ir! Aqui não podemos fazer-lhe isso!"

 

Não tenho passado lá, mas das poucas vezes que passei aquilo está sempre fechado. Insisto: Mas está lá alguém? Eu nunca a encontro... "Deixe cá ver... Aqui no sistema diz que sim... e até está com sorte!" Tento imaginar que sorte será... "Ela está lá hoje!" Tem a certeza? "Sim, aqui (no sistema) diz que ela está lá hoje das 14h às 20h.. E olhe que até há vagas, que eles em as ocuparam e já são 5 da tarde...".

 

Começo a ficar desconfiado, mas meto-me ao caminho e lá vou. Mais 20 km, aproveito e apanho os irmãos nas respectivas escolas e lá vai tudo para Alcafache! Ao aproximar-me, vejo dois carros. Humm, a senhora talvez tivesse razão... Estaciono e procuro uma porta aberta. Nada. Tudo fechado! Um dos carros dá sinal e prepara-se para abandonar o local. São 18:15. Imagino que seja a médica, a sair mais cedo. Abordo-a. A senhora abre o vidro.. "Procura o sr Justino?" (o sr Justino é o presidente da Junta, onde funciona a extensão de saúde) Não! Procuro a médica! "Ah.. a médica..!? olhe que elas (médica e auxiliar administrativa) já cá não vêm há algum tempo..." Numa tentativa, que suponho seja de me consolar, atira com esta, à laia de justificação  "parece que o sistema está avariado... e já sabe como é, sem sistema, elas não sabem trabalhar!"

 

E cá estou. Em casa. 60 km depois e uma tarde inteira a andar. A faltar ao trabalho. Com um atestado que não atesta coisa nenhuma, a não ser a minha estupidez por acreditar que alguma coisa funciona neste belo país! Miséria!

 

publicado por Ricardo Antunes às 18:39
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07
Out 10

Mario Vargas Llosa

 

 

Não sou fã, mas reconheço a justiça desta atribuição.

Tanto mais que quebra uma tradição de atribuição do Nobel a escritores que reflectem um pensamento de esquerda.

E traz de novo o prémio para uma esfera puramente literária.

É o que eu acho.

publicado por Ricardo Antunes às 17:07

Já tinha mostrado este vídeo no Facebook, por estes dias.

 

 

Hoje leio um comentário no Correntes e identifico-me na leitura.

A questão que se coloca é: duraremos mais 150 anos para chegar a este nível?

É que há muito boa gente que esquece o passado.

Dizia o novíssimo Nobel da Literatura, Vargas Llosa , (em entrevista a Carlos Vaz Marques que deve passar hoje na TSF), que acredita mais nas mudanças lentas e progressivas, do que em revoluções. Acredita porque a História se encarregou de lho ensinar, faz questão de acrescentar.

 

Então, não sigamos utopias: um país não se muda em 30 anos! Nem se faz de índices e estatísticas! E quem nos quer todos (europeus) à mesma velocidade, só pode viver noutra realidade...

 

Como ouvi por estes dias num corredor de tribunal, ainda somos só um arremedo de estado de direito.

publicado por Ricardo Antunes às 16:48

E passámos as 3000 visitas.

É pouco, dirão muito muitos.

É suficiente para que se mantenha o alento da tarefa.

 

 

Continuação de boas leituras!

publicado por Ricardo Antunes às 16:29

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